|  |  Doutor José Matos
 Bastonário da Ordem dos Biólogos
 | Costumo dizer aos jovens biólogos e aos jovens  estudantes de Biologia algo que aprendi nos meus tempos de estudante em  Inglaterra: Que a vida pode ser curta, mas é muito larga. E a Biologia, que é a  ciência que estuda a vida, é por isso também ela muito larga. Nela cabem  ecólogos (que não me canso de explicar aos jovens e aos menos jovens que são  diferentes de ecologistas), nela cabem técnicos de saúde, investigadores,  biotecnólogos, técnicos de ambiente, microbiólogos, professores e formadores,  editores e jornalistas de ciência, empresários e bioempreendedores,  bioinformáticos, biofísicos, biomatemáticos, bioquímicos…a Biologia é larga!A Biologia vive hoje uma situação singular. Nunca os  desafios mundiais necessitaram tanto de uma Biologia forte, ativa, e  interveniente como hoje.
 A nível ambiental, as alterações climáticas exigem um  forte conhecimento da capacidade de adaptação das espécies a constantes e muito  imprevisíveis mudanças dos ecossistemas para que possamos realizar uma adequada  antevisão das necessárias medidas a tomar em relação à gestão dos recursos  genéticos, às migrações de agentes patogénicos e seus vetores.
 
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|  | Também na área da saúde, a Biologia terá que  contribuir fortemente para um maior conhecimento dos mecanismos fisiológicos  envolvidos nas doenças degenerativas, dos agentes multi-resistentes, das  culturas celulares in vitro, dos  mecanismos ainda tão mal conhecidos do sistema imunitário, para a produção de  novas vacinas ou para o melhor entendimento das doenças autoimunes. Não é por  acaso que ano após ano (como aliás aconteceu em 2013 com Randy Schekman) o  prémio Nobel da Medicina e Fisiologia é atribuído a grupos de investigadores  que incluem invariavelmente um ou mais biólogos entre os laureados.O que nos leva desde logo à Biotecnologia, uma área de  enorme contribuição dos profissionais da Biologia, necessariamente inseridos em  equipas multidisciplinares, como em todas as áreas, sendo visível o seu recente  crescimento, mesmo em Portugal, onde este sector transversal da Bioeconomia tem  tido um enorme aumento relativo nas últimas décadas, mas ainda uma presença  tímida em termos absolutos. Desde os medicamentos que tomamos, à roupa que  vestimos, aos produtos que adquirimos e aos alimentos que ingerimos, é difícil  encontrar uma tarefa do nosso quotidiano na qual a Biotecnologia não esteja  presente, ainda que, na maioria dos casos, de uma forma impercetível.
 O que implica que também na área da Educação, no  ensino da Biologia, onde trabalham muitos dos nossos colegas biólogos como  professores nos vários níveis de ensino, desde o primeiro ciclo ao ensino  superior e de pós graduação ou como formadores em áreas de especialização  específicas, é previsível que as alterações dos curricula dos programas e dos  ciclos universitários das ciências da vida tenham que sofrer modificações,  alterações e adaptações mais rápidas, para melhor poderem acompanhar as  necessidades da sociedade civil e darem uma resposta mais eficiente aos  problemas que já nos acompanham e àqueles que se avizinham.
 Os jovens biólogos têm por isso no seu horizonte um  enorme desafio: Segundo as previsões da FAO teremos uma população entre 9 e 10  mil milhões de habitantes no Planeta Terra em 2050, apresentando-nos o enorme  desafio de conseguirmos produzir alimentos para todos, de uma forma  sustentável, segura e equitativa. E consegui-lo num menor espaço disponível  para a produção agrícola e animal (porque o aumento da população irá  necessariamente reduzir esse espaço), com solos mais empobrecidos, com uma  difícil gestão dos recursos disponíveis de água e com condições bióticas e  abióticas em mutação devido às alterações climáticas e a outros fatores.
 E perante esta situação reveladora de uma necessidade  gritante de uma intervenção ativa dos profissionais da Biologia, num momento em  que dispomos de uma geração de jovens extraordinariamente bem preparados, fruto  de um investimento intermitente mas continuado no nosso sistema educativo nas  últimas 4 décadas, a nossa sociedade responde com uma enorme incapacidade para  permitir que muitos destes jovens, com tanto para dar, possam ter uma  oportunidade para trabalhar afincadamente e permitir que todos nós possamos  beneficiar do seu talento e da sua formação. Não basta dizer que temos a  geração jovem mais bem preparada de sempre. É nosso dever criar as condições  para que esta geração possa contribuir para melhorar as condições de vida e  ambientais do nosso país.
 E aqueles que estão já no mercado de trabalho  constatam a dificuldade em recrutar novos talentos, em manter aqueles que já  têm nas suas equipas e em angariar financiamento que lhes permita inovar e ir  mais longe seja na investigação, na indústria, no ensino, na saúde ou no  ambiente.
 A Ordem dos Biólogos será sempre a nossa Ordem.  Será sempre o que os biólogos desejarem que ela venha a ser. O nosso porto, a  nossa voz, a nossa profissão e - porque é ela que estudamos - a nossa vida!
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