Quando me encontrava a fazer o doutoramento no Reino Unido, no King’s College London, alguns dos meus colegas mais próximos eram engenheiros mecânicos oriundos de vários países.
Quando entravam no meu laboratório e me viam rodeado de pipetas e placas de Petri, queriam sempre saber o que estava a fazer, para quê e porque o fazia daquele modo. E normalmente terminavam com esta frase: “Mas não é possível arranjar uma máquina para fazer isso em vez de ti?”. Hoje, passadas várias décadas, sorrio sempre que vejo a quantidade de robôs que existe nos laboratórios de Biologia e que dão resposta a esses meus amigos: “Sim, foi possível!”
Habituei-me, assim, a olhar para os engenheiros como parceiros indispensáveis para tornar o nosso dia-a-dia mais funcional, mais prático, mais eficiente. A Biologia é claramente a ciência que ao longo dos últimos cem anos mais fronteiras quebrou entre ela e todos os outros ramos da Ciência, criando não apenas multidisciplinaridade mas verdadeira transdisciplinaridade. A Bioquímica, a Biofísica, a Biomatemática, a Bioinformática, a Bioeconomia são claramente áreas cujo contributo para a nossa Sociedade é incomensuravelmente maior do que a soma das partes.
Por isso, a forma como os biólogos olham para a Engenharia e os engenheiros pode ser ilustrada, não se resumindo a estas, pela Bioengenharia e pela Biotecnologia. Estas áreas podem ser resumidamente definidas como a aplicação dos princípios da Biologia e da Engenharia ao processamento de materiais, através de seres vivos ou partes destes, para produzir bens e serviços. Desde novos métodos de diagnóstico para a saúde, até novos produtos biodegradáveis e amigos do ambiente, esta parceria muito tem contribuído para a nossa qualidade de vida.
O Engenheiro não é apenas aquele que, utilizando Ciência e Tecnologia, concebe, constrói e utiliza motores, máquinas e estruturas, mas é fundamentalmente aquele que olha para o Mundo sempre de uma forma pragmática, tentando colocar em prática e tornar mais eficaz aquilo que antes era apenas um conceito ou um simples rascunho.
Costumo dizer de uma forma simples e despretensiosa que “os biólogos promovem bom ambiente e os engenheiros constroem-no”. Há sem dúvida um enorme potencial para juntos, contribuirmos para um Mundo mais sustentável, nunca esquecendo que a sustentabilidade não pode ser apenas ambiental, mas também económica, social e até política. Se não podemos imaginar um laboratório de investigação sem um engenheiro civil para construir salas com segurança; se não podemos imaginar um laboratório de análises genéticas sem engenheiros mecânicos e informáticos para construírem os aparelhos de análise e os computadores para gestão de dados; se não podemos imaginar Biologia Marinha sem navios oceanográficos, é também impensável harmonizar a necessária construção de um futuro sustentável sem o conhecimento da nossa fauna, flora, microbioma e ecologia da forma profunda e operativa que só os biólogos detêm.
Biólogos e Engenheiros: sem dúvida, parceiros para a vida.
Estamos seguros disso porque, afinal, a vida é o nosso objeto de estudo
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Texto do Bastonário José Matos, publicado na INGENIUM, a revista da Ordem dos Engenheiros